As mensagens que recebi a propósito do meu artigo “Injusta Polarização”, da semana passada, levam-me a supor que alguns talvez agora me julguem um partidário das polarizações. Assim, sem adjetivos, sem facetas, sem nuances.
Olhemos sob outro aspecto. O asco daqueles que em relação à polarização se acreditam mui democráticos é, sim, um exagero, porque ela é a mais justa medida quando existe uma profunda divisão nacional, não só econômica e social, mas nas crenças, sonhos e valores, sem a devida correspondência na representação política. A sub-representação ideológica era uma realidade até 2013, quando toda uma multidão silenciada foi às ruas se manifestar. Se há grupos silenciados, a sociedade está doente.
O desabafo terapêutico demorou a se converter de mero grito em autoconsciência, e desta em projeto viável e de longo prazo. Natural: faz parte do amadurecimento de um grupo novo. E é precisamente neste contexto, ao mesmo tempo histórico e político-eleitoral, que defendi a polarização; não em geral, como solução ou ideal.
Quando chegamos às eleições, num momento de profundas divisões, de dificuldade de comunicação, de retóricas apocalípticas, os grupos se aliam em dois polos para evitar o que consideram o pior. Evitar isso só com ditadura.
A visão negativa das coisas se deve muito à chatice de amigos e familiares: os dois polos se incomodam mutuamente, mas até o limite do aceitável. Esse incômodo é bom, porque revela fragilidades e defeitos, e permite a correção de enganos e mentiras. Ele nos faz amadurecer. E a verdade também dói. Laços se desfazem. Só a tirania, porém, faz a comunicação ficar 100% confortável. Isso ao ditador e aos seus, claro.
Quanto ao personalismo, bem, ele vigora no Brasil desde a monarquia portuguesa, e atravessou o nosso império, marcando também as repúblicas. Contra uma república engessada, partidarizada e burocrática, levantam-se líder e povo contra oligarcas. Acontece desde sempre, para o bem e para o mal.
O mundo passa por fases de preto ou branco, e por fases multicoloridas. O mundo bipolar da guerra fria pode ter sido chato, mas a pluralidade era a regra nos momentos que antecederam as duas grandes guerras do século passado, e a sensação de injustiça não era menos geral. Foi a formação de dois grande blocos que permitiu que o mundo os visse com mais clareza para lutar contra o mal maior, unindo diferentes grupos que se enxergavam a si como males menores.
Nem tudo é nazismo, gente.
A questão é buscar ajustar o melhor ao possível e ao contexto que os envolve. É ver melhor para escolher melhor. Só assim, e não apenas gritando palavras bonitas, prevalecerá alguma cota da justiça possível a um mundo que muitas vezes não é nem bonito, nem justo.