O silêncio nos acusa

Rafael Nogueira

7/6/20252 min read

Há presos políticos no Brasil. Filipe Martins foi jogado numa cela isolada e sem luz por dias, numa tentativa clara de coação para delatar. Ou melhor: para inventar o que delatar. Antigamente, chamariam isso de tortura. Hoje, é o carinho da democracia.

Ele não cedeu.

Num tempo em que tantos se ajoelham diante do poder, ele se manteve de pé. Em silêncio. Até lhe darem a chance de se defender por si mesmo.

Ignorar esse caso é um erro grave. Um erro que nos compromete, porque além de Filipe vemos a degradação do Estado de Direito, com o avanço de um modelo de justiça que pune antes do julgamento, que prende para forçar versões, que criminaliza o silêncio.

A história ensina. Ou deveria ensinar. O mal não aparece, como nos desenhos animados, vestido de monstro. Os piores sempre disseram que agiam pela ordem, pelo povo, pela ciência, pela soberania, pelo bem. Ditadura foi moda no século XX. E o mundo, em larga medida, consentiu.

Aqui, fingimos que aprendemos. Mas deixamos um inocente numa solitária, e, semanas depois, deixamos também uma aliança dedicada à memória do Holocausto. Como quem abandona, sem dizer por quê, a lição mais dura da história recente.

Filipe voltou ao silêncio. E é um silêncio que nos acusa, porque o caso dele grita contra nós. Contra os que demoram a perceber. Contra os que percebem e não dizem nada. Contra os que acham que isso não os atinge.

Acusa a cada um de nós, que vimos a injustiça e escolhemos o conforto. Que relativizamos o arbítrio quando não nos toca diretamente. Que aprendemos a repetir "democracia" sem saber se os que a têm na boca a levam também no cérebro e no coração.

A injustiça contra um homem livre não termina nele, mas contamina tudo. Corrói instituições, torna letra morta as leis, abala a confiança nos que julgam e nos que governam.

A liberdade não se defende em silêncio. E quem hoje se cala diante da injustiça talvez, amanhã, só consiga sussurrar dentro dela.